UM TEMPLO OU UM TEATRO? (C. H. Spurgeon)

Os homens parecem nos dizer: “Não há qualquer utilidade em seguirmos o velho método, arrebatando um aqui e outro ali da grande multidão. Queremos um método mais eficaz. Esperar até que as pessoas sejam nascidas de novo e se tornem seguidores de Cristo é um processo demorado. Vamos abolir a separação que existe entre os regenerados e os não-regenerados. Venham à igreja, todos vocês, convertidos ou não-convertidos. Vocês têm bons desejos e boas resoluções: isto é suficiente; não se preocupem com mais nada. É verdade que vocês não crêem no evangelho, mas nós também não cremos nele. Se vocês crêem em alguma coisa, venham. Se vocês não crêem em nada, não se preocupem; a ‘dúvida sincera’ de vocês é muito melhor do que a fé”. Talvez o leitor diga: “Mas ninguém fala desta maneira”. É provável que eles não usem esta linguagem, porem este é o verdadeiro significado do cristianismo de nossos dias. Esta é a tendência de nossa época. Posso justificar a afirmação abrangente que acabei de fazer, utilizando a atitude de certos pastores que estão traindo astuciosamente nosso sagrado evangelho sob o pretexto de adaptá-lo a esta época progressista. O novo método consiste em incorporar o mundo à igreja e, deste modo, incluir grandes áreas em seus limites. Por meio de apresentações dramatizadas, os pastores fazem com que as casas de oração se assemelhem a teatros; transformam o culto em shows musicais e os sermões, em arengas políticas ou ensaios filosóficos. Na verdade, eles transformam o templo em teatro e os servos de Deus, em atores cujo objetivo é entreter os homens. Não é verdade que o Dia do Senhor está se tornando, cada vez mais, um dia de recreação e de ociosidade; e a Casa do Senhor, um templo pagão cheio de ídolos ou um clube social onde existe mais entusiasmo por divertimento do que o zelo de Deus? Ai de mim! Os limites estão destruídos, e as paredes, arrasadas; e para muitas pessoas não existe igreja nenhuma, exceto aquela que é uma parte do mundo; e nenhum Deus, exceto aquela força desconhecida por meio da qual operam as forças da natureza. Não me demorarei mais falando a respeito desta proposta tão deplorável.

C. H. Spurgeon

AS ARMADILHAS DO TRIUNFO.

A cada final de ano começamos a criar expectativas para o ano seguinte, supondo que ele vai ser diferente do que o anterior. Desejamos, tanto para nós como para as outras pessoas, muito sucesso e prosperidade. E por que isso acontece? É porque vivemos numa sociedade que nos exige a todo instante o êxito.

Diga-se de passagem, não há nada mais enganoso do que o sucesso. Podemos dizer que o caminho do triunfo é escorregadio. Para a maioria das pessoas êxito é o mesmo que superioridade. Quem triunfa é benquisto. Mas, o triunfo traz consigo algumas armadilhas.

Na Bíblia encontramos o exemplo de Gideão, um homem que soube buscar a Deus em tempos de crise, mas não soube honrá-lo na vida diária, depois da conquista. Ao ler o texto bíblico podemos encontrar quatro armadilhas do triunfo (Juízes 8.22-35):

Vejamos algumas armadilhas que o triunfo produz no curso da vida.

1ª Armadilha: As pessoas sempre estão esperando mais de nós.

“Então os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, tanto tu, como teu filho e o filho de teu filho; porquanto nos livraste da mão dos midianitas” – v. 22.

Quando estávamos para vir ao mundo, nossos pais tinham expectativas a nosso respeito. Nós mesmos criamos expectativas para o casamento, para a vida profissional, ministerial, relacional, etc. Ou seja, todos esperam mais de nós, assim como queriam mais de Gideão. Afinal de contas, ele tinha sido o responsável pela libertação do povo.

Somos bons construtores de imagens. E no curso da vida vamos criando imagens fantasiosas e irreais das pessoas que nos cercam, e esperamos que suas ações façam jus a essas imagens.

Ter expectativas não é ruim, desde que elas não nos roubem de nós mesmos. O problema é que as pessoas esperam que sejamos quem elas são. E quando esperamos demais das pessoas, a decepção pode ser muito grande.

2ª Armadilha: A acomodação.

“Porém Gideão lhes disse: Sobre vós eu não dominarei, nem tampouco meu filho sobre vós dominará; o SENHOR sobre vós dominará” – v.23.

É aquela pessoa que diz: “Pronto, já conquistei o que tinha que conquistar. Já cheguei.” Ou, então: “Eu cheguei até aqui, mas não posso ir além.” Entretanto, as alegrias e vitórias do passado não são garantias de nada, por isso, não podemos nos firmar em conquistas passadas.

Aparentemente Gideão estava sendo piedoso em dizer: “O Senhor domine sobre vocês…” Mas na verdade ele procurou se eximir da responsabilidade. Exemplos: Faz parte da vida instintiva do ser humano a conquista. Esforçamos-nos para conquistar algo. Só que depois do triunfo a impressão que se dá é que acaba o encanto.

3ª Armadilha: O uso errado da popularidade (v. 24).

“E disse-lhes mais Gideão: Uma petição vos farei: Dá-me, cada um de vós, os pendentes do seu despojo (porque tinham pendentes de ouro, porquanto eram ismaelitas)” – v. 24.

Popularidade não significa necessariamente credibilidade, pois, às vezes queremos nos beneficiar tanto do triunfo que acabamos fazendo coisas erradas, e usando as pessoas para alcançarmos as coisas, quando na verdade, deveríamos usar as coisas para alcançarmos as pessoas.

Daí para frente, a vida de Gideão tornou-se uma discrepância, comparada aos episódios relatados nos capítulos anteriores. Vejamos alguns:

  • Ele usou o prestigio que tinha para pedir as jóias do despojo para fazer uma estola, que acabou em objeto de idolatria. Desse peso fez Gideão uma estola sacerdotal e a pôs na sua cidade, em Ofra; e todo o Israel se prostituiu ali após ela; a estola veio a ser um laço a Gideão e à sua casa” (v. 27). O texto deixa claro que esse objeto veio a ser um laço a Gideão e a sua casa.
  • A poligamia. Gideão teve muitas mulheres e concubinas. Teve Gideão setenta filhos, todos provindos dele, porque tinha muitas mulheres. A sua concubina, que estava em Siquém, lhe deu também à luz um filho; e ele lhe pôs por nome Abimeleque” (vs. 30-31).

4ª Armadilha: A falta de um legado (vs. 32-35).

“E faleceu Gideão, filho de Joás, numa boa velhice; e foi sepultado no sepulcro de seu pai Joás, em Ofra dos abiezritas. E sucedeu que, como Gideão faleceu, os filhos de Israel tornaram a se prostituir após os baalins; e puseram a Baal-Berite por deus. E assim os filhos de Israel não se lembraram do SENHOR seu Deus, que os livrara da mão de todos os seus inimigos ao redor. Nem usaram de beneficência com a casa de Jerubaal, a saber, de Gideão, conforme a todo o bem que ele havia feito a Israel” – vv. 32-35.

A maior questão da vida não são as circunstâncias e, sim, a nossa lealdade a Deus em qualquer circunstância que tenhamos que enfrentar. O primeiro grande ato heróico de Gideão foi derrubar o altar de Baal que era de seu pai (6.25). O final da sua vida resultou no retorno ao culto a este mesmo ídolo.  Gideão conseguiu apenas tirar os midianitas, mas não o seu ídolo. O texto é concluído fazendo alusão ao desprezo e a ingratidão do povo para com Gideão. “Não serviram por muito tempo ao SENHOR Deus, que os havia livrado de todos os inimigos que viviam ao redor deles. E também não foram agradecidos à família de Gideão por tudo de bom que ele havia feito para o povo de Israel” (vs. 34-35 – NTLH).

É certo que muitos de nós conquistaremos grandes vitórias neste ano. Mas a grande questão é: Estamos de fato preparados para o triunfo? Não basta só vencer… A primeira e melhor vitória é aquela que conquistamos sobre nós mesmos.

É bem provável, que nos anos vindouros nem sejamos lembrados por nossos feitos, mas ainda assim precisamos preservar nossas convicções e valores.

Que o Eterno nos ilumine na nossa caminhada de fé.

No Amor de Jesus,

Edu Lopes